segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Impacto da Doença de Chagas é maior que do rotavírus e do câncer de colo do útero


Pesquisa mostra que apesar de ser considerada uma doença tropical, seu impacto econômico vem crescendo em áreas como EUA e Canadá

Trypanosoma cruzi, protozoário causador da Doença de Chagas
'Trypanosoma cruzi', protozoário causador da Doença de Chagas (Carolina Biological/Visuals Unlimited/Corbis/Corbis (DC)/Latinstock)
Um estudo que avaliou o impacto econômico global da doença de Chagas mostrou que ele supera doenças bem mais conhecidas mundialmente, como o rotavírus (vírus que causa diarreia grave e infecções, principalmente em crianças) e o câncer de colo do útero. Apesar de ser considerada uma doença tropical, e da maioria dos casos se concentrarem na América Latina, o impacto econômico dessa doença se mostrou significativo em áreas onde ela não é tradicionalmente considerada um risco, como a América do Norte e a Europa.
O estudo, publicado nessa quinta-feira no periódico Lancet Infectious Diseases, levou em consideração não só os gastos da área da saúde com os pacientes e as mortes causadas pela doença, mas também a produtividade perdida em virtude dela.
A doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida por insetos conhecidos como "barbeiros" (Triatoma infestans). Ela não é transmitida pela picada do inseto, mas pelas fezes que ele deposita na pele durante a picada. Quando a pessoa coça o local, as fezes penetram no organismo, causando a doença.
Ao cair na circulação, o parasitaTrypanosoma cruzi pode causar febre, dores de cabeça e lesões na pele, sintomas que na maioria das vezes passam despercebidos. Porém, em alguns casos, a doença volta a se desenvolver depois de mais de 20 anos, podendo causar arritmia cardíaca e até aumento do tamanho de órgãos, como coração, intestino e esôfago, e pode levar à morte.
A transmissão também pode ocorrer por meio de transfusão de sangue, da placenta e, mais raramente, por via oral, ou seja, ingestão de alimentos contaminados pelo parasita.
De acordo com estimativas da OMS, existem 10 milhões de pessoas infectadas pelo parasita em todo o mundo, com a maior concentração na América Latina. Só no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, existem cerca de três milhões de indivíduos infectados.
Os casos costumam ser mais frequentes em regiões mais pobres, onde existe uma quantidade maior de moradias de baixa qualidade, muitas vezes de madeira, onde os insetos transmissores vivem.
Custos — A pesquisa estima que os gastos globais com a doença de Chagas excedam os 7 bilhões de dólares anuais, valor que supera os gastos com o rotavírus (2 bilhões) e câncer de colo do útero (4,7 bilhões).  Mais de 10% desse valor vem dos Estados Unidos de do Canadá, lugares que tradicionalmente não são considerados de risco para a doença.
Para Peter Hotez, um dos autores do estudo, quantificar o impacto econômico da doença pode ajudar no desenvolvimento de políticas de saúde pública. "Nós temos evidências de que a doença de Chagas tem um impacto além de alguns países mais pobres. Em todo o mundo, a doença de Chagas em um impacto econômico imenso", afirma o pesquisador.

Opinião do especialista

Dirceu de Almeida
membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e professor da Unifesp


"Nos Estados Unidos o impacto é maior por conta da imigração, mas a doença de Chagas está em todo o mundo. Ela era uma doença quase que exclusiva da América Latina, particularmente da América do Sul, mas com o tempo a transmissão predominante pelo barbeiro foi caindo e surgiram outras formas, como transfusão de sangue e a transmissão da mãe para o feto.

"Uma nova forma de transmissão, que ocorre principalmente no norte do Brasil, é a contaminação por alimentos, principalmente cana-de-açúcar e açaí. Ocorrem cerca de 200 a 250 casos por ano transmitidos dessa forma, contando apenas aqueles que se tem conhecimento.

"A doença de Chagas acomete principalmente pessoas de baixa renda, então os investimentos são baixos, principalmente nos locais onde a doença é mais grave. Alguns estados do Brasil, como São Paulo e os da região Sul, controlaram totalmente a transmissão pelo mosquito barbeiro, mas e, outros locais, como Amazonas, Goiás e o Piauí, ela ainda ocorre.

"No Brasil o Ministério da Saúde fala em três milhões de infectados, mas o número é seguramente maior do que isso, porque boa parte das pessoas infectadas não chega a desenvolver os sintomas da doença.

"O pico da doença corresponde à fase mais produtiva das pessoas, entre 30 e 40 anos, de modo que ela gera um custo alto para o Estado, com aposentadoria precoce, por exemplo.  Além disso, a doença requer tratamentos caros, como transplante de coração, uso de desfibrilador e marca-passo".

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