sábado, 22 de junho de 2013

A CAJUCULTURA EM PORTALEGRE

O município de Portalegre-RN sempre se notabilizou por uma produção significativa de castanha de caju e, em menor quantidade, de outras frutas. Num passado recente se produzia frutas como manga, banana, abacate, jaca, pinha, seriguela, pitomba e algumas outras. A exceção da castanha de caju, tinha-se pouco aproveitamento econômico das frutas e talvez por isso mesmo, quase desapareceram.

Historicamente os produtores de castanha de caju venderam o produto in natura para alguns atravessadores locais, sendo praticamente 100% destinada ao processamento em Mossoró-RN.

A área diminuta dos estabelecimentos agrícolas familiares e a predominância de cajueiros tradicionais que ocupam grande espaço e só produzem sazonalmente induziam ao endividamento. A prática de receber “adiantamentos” em mercadorias, quase sempre gêneros alimentícios, ou dinheiro dos atravessadores significavam comprometimento da produção e enorme dificuldades para estabelecer negociações mais vantajosas para os pequenos produtores.

Tais circunstâncias determinaram o estabelecimento de um ciclo vicioso de dependência e exploração. Este modelo altamente rentável para os atravessadores sofreu um duro golpe com a criação de uma associação de pequenos produtores que, estimulados pelo vigário local, conseguiram colocar em funcionamento o novo empreendimento.

A associação se constituiu rapidamente numa alternativa para os produtores locais que passavam o produto para beneficiamento e posterior venda. O maior valor agregado e a boa aceitação do produto representaram atrativos para conquista de novos membros e, consequentemente o fortalecimento da associação.

O novo modelo, baseado no associativismo, incentivou outras iniciativas e várias outras entidades foram criadas, inclusive para aproveitamento das oportunidades relacionadas aos repasses de recursos, quase sempre a fundo perdido, a partir de variados projetos e programas com financiamento de organismos internacionais, como o Banco Mundial.

O ‘legado’ desse boom associativista em relação aos objetivos inicialmente formulados no que se referiram a geração de emprego e renda resultou em desconfiança para muitos produtores. Por inúmeras circunstâncias boa parte dos projetos não tiveram os resultados esperados e prometidos (voltarei ao assunto em outra postagem).

Também a associação dos pequenos produtores que nasceu a partir da determinação do vigário local sofreu seus reveses. O mais significativo foi a desconfiança generalizada que um dos auxiliares mais próximos do padre e responsável pelo caixa da associação não estaria gerindo adequadamente os recursos. O episódio envolto em denúncias e desconfiança teve influência direta na desarticulação do empreendimento.

Criação de uma nova associação

A desorganização da primeira associação voltada ao beneficiamento da castanha coincidiu com o fortalecimento de um novo empreendimento voltado para o aproveitamento do pseudofruto para fabricação de suco.

Historicamente o pseudofruto foi utilizado para o consumo familiar e alimentação de animais. A partir da construção de uma fábrica de beneficiamento no município de Itaú-RN replicou-se o modelo de venda do ‘bagaço’ aos atravessadores (a mesma característica que predominou na venda das castanhas).

As inúmeras oportunidades de obtenção de recursos a fundo perdido serviram de estímulo para alguns produtores aceitarem a liderança do agrônomo do Escritório da EMATER local para uma nova empreitada, desta feita, com o propósito de implantação de uma fábrica de suco de caju.

Os avanços e reveses

A percepção superficial, visto que não realizei estudo empírico que permitisse referendar posicionamento mais afirmativo, é que o objetivo principal da associação, ou seja, a estruturação da unidade de beneficiamento local para desarticulação da ação dos atravessadores, foi atingindo. A fábrica é uma realidade e seu crescimento também é nítido (Sede bem estruturada, equipamentos em bom estado de conservação, aquisição de novos equipamento e caminhão e, segundo alguns, dinheiro em caixa para realização de novos investimentos e/ou custeio).

Entretanto, ainda no terreno eminentemente especulativo, alguns problemas parecem que não foram devidamente equacionados. Destaco o envelhecimento dos cajueiros e a consequente redução de produtividade sem que nenhuma ação verdadeiramente eficaz tenha sido adotada. Também merece atenção a especialização produtiva que determina a elevada dependência da cajucultura. É sabido que os estabelecimentos agrícolas que obtém os resultados mais satisfatórios são aqueles mais diversificados.

O ambiente administrativo da associação aparentemente dominado por um grupo seleto tende a limitar o surgimento de novas lideranças e, consequentemente pode desestimular a participação dos mais jovens. Aliás, um indício bastante emblemático do desinteresse dos mais jovens com o associativismo e a produção agrícola é o evidente abandono das propriedades e a predominância de pessoas idosas tentando persistir na produção.


Além disso, a condução centralizada em poucos, ou apenas um nome, pode enfraquecer os elos sociais que se estabelecem naturalmente num ambiente mais democrático e menos personalístico. A rigor, reintroduz a dependência que deu causa ao movimento inicial para constituição de várias associações e eleva o sentimento de desesperança.

Reprodução autorizada, desde que a fonte seja citada.


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