quinta-feira, 21 de julho de 2016

PORTALEGRE/VIÇOSA: O Massacre dos índios Tapuias-Paiacus em 1825

Uma equipe de pesquisadores, comandada pelo professor Gilton Sampaio (CAMEAM-UERN), visitou o município de Viçosa.


O principal objetivo foi uma visita ao provável local em que teria ocorrido o assassinato de indígenas Tapuias-Paiacus.

 

No local, denominado de Cemitério do Massacre dos índios, no ano de 1825, aproximadamente, setenta índios teriam sido chacinados por forças governamentais, após um ataque perpetrado pelos indígenas a sede da Vila portalegrense.





Salvo melhor juízo, a comprovação do local ainda exige estudos arqueológicos, mas os relatos são verossímeis com as práticas abomináveis dos colonizadores e seus descendentes em relação às populações autóctones.

O historiador Valter de Brito Guerra escreveu:
“Uma manhã, os índios reuniram-se, atacaram a vila de Portalegre, travando uma luta com os moradores, da qual resultou a morte do Delegado de Policia, Capitão Bento Inácio de Bessa e o suicídio do Coronel Vieira de Barros. Restabelecida a ordem, foram os índios presos e algemados, seguindo escoltados para a cadeia da cidade de Natal. Ao chegarem ao pé da serra, entre o Sítio ‘Viçosa’ e Vila de Portalegre, levantaram uma grande cruz, e depois de rezarem um terço, foram os prisioneiros passados pelas armas”.
“Quem viajar entre o sítio ‘Viçosa’ e Portalegre verá próxima à estrada a cruz e as sepulturas daqueles que foram os primeiros povoadores deste sertão.”


Valdecir dos Santos Júnior, no livro “Os índios tapuias do Rio Grande do Norte: antepassados esquecidos”, diz que os índios mouxorós, após conflito com vaqueiros, teriam sido aldeados na “Serra dos Dormentes” (também denominada "Serra de Dona Margarida", tornou-se "Vila do Regente" em 1761) em Portalegre-RN e que em 1749 teriam entrado em conflito com os paiacus. Após a derrota sofreram novo aldeamento na serra de Cepilhada em Campo Grande-RN (p. 26).


O mesmo autor escreveu sobre os índios caborés que também teriam sido aldeados em Portalegre-RN e, posteriormente, transferidos para o engenho do Ferreiro Torto (próximo a Natal), em 1716 (p. 27).

Ou seja, relatos de prisões, translado de índios e conflitos são abundantes, mas quase sempre com datas anteriores ao fatídico ano de 1825.

Outro trecho do livro trata do provável massacre:

"Em 1805 a Vila de Portalegre - RN possuía 400 índios, sendo 189 do sexo masculino e 211 do feminino, com a população branca atingindo 262 pessoas, 100 negros e 255 mulatos.”
(Documento existente na Biblioteca Nacional de Lisboa, datado de 31 de Dezembro de 1805, informando os dados estatísticos da Vila de Portalegre - RN. MEDEIROS FILHO, Olavo de. Notas para a História do Rio Grande do Norte. Editora Centro Universitário de João Pessoa, Março, 2001. Pág.165.).

“Em 03 de Novembro de 1825, ocorre uma chacina de índios Paiacus aos pés da serra de Portalegre - RN, no sítio Viçosa (atual município de Viçosa-RN). Esses estavam sendo escoltados para a cadeia de Natal-RN:
'Repelidos e presos, os indígenas foram algemados e conduzidos para Natal, diziam os da escolta. No pé da serra, levantaram uma grande cruz e mandaram a indiada rezar o terço. Terminada a oração foram todos fuzilados. Eram uns setentas. Não foi possível punição.'(SPENCER, Walner Barros. Cunhaú - Um patrimônio de valores contraditórios. Artigo publicado em 18.10.2004, na Natalpress.com)"

A referência é o artigo de Barros (2004) e a chacina teria ocorrido numa época em que a orientação do governo já havia se modificado:

“O projeto de legislação indigenista no contexto das reformas pombalinas, quando entre 1757 e 1798 se organizou o Diretório de índios, código legislativo que extinguiu o sistema de missões e secularizou a administração dos aldeamentos de índios e a Companhia de Jesus foi expulsa do Brasil, estimulou a secularização das aldeias e sua integração na organização formal das instituições urbanas européias: freguesias e vilas. As aldeias tornaram-se vilas e suas terras foram repartidas.”

“Desde 1654 se havia iniciado esta tendência na administração urbana, mas em 1750, com o fim da ação missionária oficial na região e com as novas determinações que a estabilização da posse da terra ocasionava, começa com maior determinação a organização de novas cidades.”

(PORTO, Maria Emília Monteiro. Fronteira: Jesuítas e missões no Rio Grande colonial. http://www.cafefilosofico.ufrn.br/emilia.htm.)

Vale a pena conferir o trabalho "Entre Parentes: cotidiano, religiosidade e identidade na serra de Portalegre/RN", de Glória Cristina de Oliveira Morais, especialmente no capítulo 1 "No topo da serra" se encontra material histórico sobre o período.

Fonte das fotos: blog Na Hora RN

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