sábado, 13 de agosto de 2016

A História do Nordeste

               
A colonização do Nordeste brasileiro deu-se pelo litoral, onde os portugueses encontraram condições ideais para o plantio da cana-de-açúcar. O açúcar era um produto de grande aceitação na Europa e alcançava um grande valor comercial. Após as experiências positivas de cultivo no Nordeste, já que a cana-de-açúcar se adaptou bem ao clima e ao solo nordestino, começou o plantio em larga escala. E o litoral bastava para os colonizadores. Toda parte não habitada era chamada de deserto, ou “desertão”, palavra essa que posteriormente ficou resumida a “Sertão”.
               Surgiram então os engenhos para processar o açúcar, e para mover as moendas tiveram que importar o gado para os trabalhos de tração. Com o crescimento do rebanho, começaram a surgir problemas entre os senhores de engenho e os criadores de gado, de forma que em 1701 uma Carta-Régia determinou a retirado do rebanho das terras litorâneas. As 10 primeiras léguas (aproximadamente 60 Km), a partir da quebra do mar, estavam reservadas para a plantação de cana-de-açúcar. Restava, pois, aos criadores o sertão.
               E foi no rastro do gado que o sertão foi colonizado. Os pecuaristas aproveitavam os leitos secos dos rios como estradas para conduzirem as suas boiadas e quando chegavam num lugar plano, fora da faixa proibida, construíam os seus currais, erguiam as suas cabanas, fixavam-se na terra.


               Para a construção das cabanas primitivas, o couro do boi era usado em grande escala. De couro eram as portas e janelas dos casebres, o lastro das camas rústicas, os baús de guardar objetos e roupas, os depósitos para a farinha, os arreios dos animais, o chapéu do vaqueiro, o gibão que os protegia, o peitoral que protegia igualmente os animais dos espinhos e pontas de galhos secos.
               A presença do escravo africano nas fazendas era insignificante. Até porque um único homem era capaz de cuidar até de 200 rezes, do modo como era criado o gado no sertão. E pelo isolamento em que o sertanejo vivia, os poucos escravos eram tratados como membros da família, sem os castigos sofridos pelos escravos dos engenhos do litoral. Muitos dos escravos se afeiçoavam tanto aos seus patrões e aos filhos dos patrões, que eram capazes de dar a própria vida para defendê-los. São várias as histórias que se contam nesse sentido.
               Muitas dessas fazendas tornaram-se, posteriormente, cidades. E acontecia de maneira natural. A religiosidade do povo sertanejo fazia com que houvesse a necessidade de se construir suas casas de oração ou até mesmo pequenas capelas. E ao redor dessas capelas iam se construindo as casas dos moradores, com o tempo e com o crescimento das famílias aqueles lugares se tornavam povoados, vilarejos, vilas e depois cidades. Aqui no Rio Grande do Norte várias cidades surgiram dessa forma, como nos ensina o Mestre Câmara Cascudo. Mossoró é um exemplo claro dessa forma de povoamento.
               A primeira concessão de terra doada nas ribeiras do Mossoró foi para os frades do Convento do Carmo de Olinda/PE. Essa concessão foi por volta do ano de 1700. Os carmelitas queriam terras para criação de gado. Aqui se instalaram, montaram seus currais, suas casas de moradas e de oração. E a tudo foram dando o nome do Carmo. Carmo passou a ser o rio que cortava a suas terras; Carmo passou a ser a serra, foi o nome da fazenda por eles administradas, topônimos que permanecem até os dias atuais.
               Depois dos carmelitas, outras concessões de terras foram sendo doadas pela Coroa Portuguesa, ao longo da ribeira do Mossoró, inclusive a Fazenda Santa Luzia que pertencia, antes de 1739, ao Capitão Teodorico da Rocha. Por volta de 1770, a posse da Fazenda estava com o português Antônio de Souza Machado, e foi por essa época que a fixação demográfica foi iniciada pela criação de gado, oficina de carnes e extração do sal.
               Foi Souza Machado quem construiu a pequena capela de Santa Luzia, em pagamento de promessa feita por sua mulher. Ao redor da capela foi sendo erguidas casas para os moradores e familiares e foi se formando a quadra do vilarejo. Em 15 de março de 1852, através de um projeto do Vigário Antônio Joaquim, o povoado de Santa Luzia do Mossoró era Emancipado, desligando-se politicamente do município de Assu, passando a se chamar Vila de Mossoró, e em 9 de novembro de 1870 a vila foi elevada ao predicamento de cidade, permanecendo até os dias atuais como Cidade de Mossoró.
               Assim se deu a colonização do Sertão Nordestino.
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OS SERTÕES

               Antes da chegada do colonizador, a terra já era ocupada por tribos indígenas Jandui e Paiacus. Mas na passagem devastadora dos povoadores dos sertões, os primitivos habitantes foram sendo escravizados, massacrados e expulsos de suas terras e nelas os povoadores fincaram os mourões das porteiras dos currais de gado. Já não havia mais lugar para os nativos. Assim começou o desbravamento do sertão potiguar.
               Sertão, velho sertão nordestino. Sertão de lutas, de agruras, sertão sofredor. Se o ano for de seca, a sede, a fome e a desgraça amedrontam o sertanejo; se for ano de chuva, a fartura, a beleza do campo e o cantar da passarada alegram aquele torrão. Terras que no dizer de Euclides da Cunha são \"Barbaramente estéreis\", \"maravilhosamente exuberantes\".
               O vocábulo Sertão, nos primórdios do povoamento brasileiro, designava todas aquelas regiões ainda não povoadas ou ainda mal ocupadas do país. Como a natureza hostil do interior do Nordeste dificultou a fixação humana da região, gerando uma ocupação rarefeita de lento e penoso adensamento, moldando o isolamento das comunidades, consagrou o nome de sertão para todo aquele imenso território coberto pelas caatingas.
               Podemos dizer que foi o gado o desbravador do sertão. Os imensos canaviais da costa das capitanias do Nordeste eram as bases de uma economia mercantilista que fez com que o litoral bastasse aos portugueses. Toda a terra fértil próxima ao litoral estava destinada por determinação da Coroa ao cultivo exclusivo da cana-de-açúcar. Não sobrava, dessa forma, espaço para o desenvolvimento de atividades acessórias como a pecuária que fornecia carne e força motriz aos engenhos. Daí surgiu no litoral à necessidade de separação entre a monocultura da cana e a pecuária. Uma carta régia de 1701 determinava que as dez primeiras léguas a partir da batida do mar (aproximadamente 60 Km), eram destinadas a cana-de-açúcar. Para o gado sobrava o sertão. Foi no interior das capitanias, como a do Rio Grande, que o criatório mais se desenvolveu, mesmo com resistência indígena contra os primeiros assentamentos de fazendas.
               Segundo Osvaldo Lamartine, “a semente do gado trazida do reino para cá foi, de princípio, mais para acudir a precisão de força do cangote do boi no giro tardo das almanjarras dos engenhos ou no gemer lamuriento das cantadeiras dos carros de boi, carregando cana e lenha, de vez que os trapiches requeriam sessenta bois, os quais moíam de doze em doze horas revezados. Com o tempo, crescendo a parição, é que se cuidou do aproveitamento do leite, das carnes e dos couros”.
               E foi assim que os criadores se internaram no sertão, rompendo pelos caminhos das águas – subindo os rios ou a areia deles, já que nas secas os rios secavam. A marcha era lenta e penosa, castigada pelo sol abrasador, pela sede, rasgando as carnes nos espinhos da sarjadeira, da jurema, do sabiá, da macambira, da quixabeira, do juazeiro, do cardeiro ou do xique-xique, muitos perdendo a vida pelas flechas do caboclo-brabo ou pela picada venenosa da jararaca ou da cascavel.
               Quando encontravam terras propícias, principalmente próximo a algum rio, eram fincados os currais. As cabanas eram construídas de madeira e palha, tendo o couro como elemento fundamental. Era a época do couro, como nos ensinou Capistrano de Abreu. “De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado ao chão duro, e, mais tarde, a cama para os partos; de couro todas as cordas, a borracha para carregar água, o mocó ou alforje para levar à comida, a mala para guardar roupa, a mochila para milhar o cavalo, a peia para prendê-lo em viagem, as bainhas das facas, as bruacas e surrões, a roupa de entrar no mato, os bangüês para costumes ou para apurar sal”.
               Com a implantação dos currais, se consolidavam os aglomerados. Como religiosos fervorosos que eram logo construíam uma capela e ao seu redor surgiam as casas, sendo a do fazendeiro a mais vistosa. Nesta se instalavam e moravam alguns dependentes da família, os filhos, parentes e aderentes. E assim nasciam as Fazendas.
               No caso do sertão potiguar, algumas fazendas se transformaram em povoados, vila e deram origem, dentre outras, às cidades de Açu, Apodi, Caicó, Portalegre, Pau dos Ferros, Currais Novos, Mossoró e Acari. Assim nasciam as cidades no sertão.
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O GADO NO RN

É bem antiga a notícia da existência de gado no Rio Grande, como era conhecida a Capitania. Veio principalmente de Pernambuco e da Paraíba, tangidos pelos colonizadores que pretendiam se fixar na região. Viajavam em comboios, tangendo gado e fincando nos tabuleiros o sinal de posse.
               A primeira sesmaria concedida, data de 09 de janeiro de 1600. O beneficiado foi João Rodrigues Colaço, que usou a terra recebida para a criação de gado, roçaria de milho, mandioca e feijão, conforme ficou documentado.
               Com a existência de bons pastos, o gado que aqui chegava se multiplicava facilmente. Em 1630, Adriano Verdonck descrevia os arredores de Natal: “... Nesta região do Rio Grande há em quantidade e abundância gado, em muitos lugares porcos e em geral muitas galinhas. As pastagens são ali excelentes e os habitantes não têm outra riqueza senão o gado com que fazem muito dinheiro.\" Em 1633, o rebanho de gado Norte-rio-grandense era calculado em 20.000 cabeças. Depois de 1654, começou a penetração para o sertão. Atingem o Açu e ribeira do Upanema. Também vinha gado do Jaguaribe para as regiões planas de Mossoró, se espalhando para a Chapada do Apodi e vales cobertos de carnaúbas.
               Como o gado era criado solto, era comum que vaqueiros entrassem mato adentro, na procura de rezes perdidas. Era comum também que nessas entradas, encontrassem pastagens novas e águas, o que ajudava a alargar ainda mais a penetração na terra desconhecida. Muitas cidades surgiram assim. Os velhos currais de gado foram os alicerces das futuras cidades. Dessa forma, a fazenda de gado foi de alguma forma, um processo de povoamento.
               A pecuária fornecia tanto carne para a alimentação, como animal de tração e carga. O boi era usado para tracionar os moinhos de cana-de-açúcar nos engenhos, o cultivador na lavoura, o carro de boi para transportar todo tipo de carga, etc. O boi substituía o trabalho escravo, sendo mais barato e mais fácil de obter, devendo substituí-lo sempre que possível.
               Durante o Domínio holandês, especialmente entre 1633 e 1654, o maior fornecimento de rezes para o consumo era feito pelos criadores de gado do Rio Grande. Em 1635 os conselheiros políticos exaltaram a conquista final desta capitania, como um benefício inestimável. Sem o Rio Grande, os soldados holandeses tão miseravelmente tratados, ficariam condenados a morrer de fome. Sem o Rio Grande, a alimentação da população de Pernambuco, em constante crescimento, seria uma coisa impossível. O Rio Grande era, portanto, a única região de onde se recebiam quantidades ponderáveis de farinha de mandioca e gado, tanto para os engenhos, como para a alimentação, atenuando as péssimas condições de vida para os moradores do Recife, no que diz respeito à alimentação.
               O período de ocupação holandesa no Rio Grande do Norte foi de destruição, de aniquilamento, de martírio. Quando de sua expulsão, a Capitania estava arrasada. A população branca havia praticamente desaparecido, plantios e gado tudo havia sido destruído.
               A recuperação da Capitania foi muito lenta. Mas a pecuária continuou sendo a principal ocupação dos seus habitantes.
               Pelo Senso de 1992, o Estado do Rio Grande do Norte tinha um efetivo de 929.910 cabeças de gado, assim distribuídos: Zona do Litoral Oriental, 118.389; Zona do Litoral Norte, 86.426; Zona do Agreste, 185,102; Zona de Currais Novos, 39,991; Zona de Caicó, 110,470; Zona das Serras Centrais, 64,624; Zona do Alto Apodi, 157,387; Zona Mossoroense, 167,521.
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A SECA DE 1915

O ano de 1915 foi de sede e fome para o sertão nordestino. Episódios terríveis foram registrados naquele ano. Leva de retirantes dirigia-se para Mossoró, diariamente, em busca da salvação. Mas muitos não conseguiam chegar ao destino; morriam pelo caminho. Aos que chegavam restava a vergonha da miséria, a humilhação de pedir o que comer, de implorar por um trabalho onde pudesse ganhar o que comer.
               Chega 1916 e com ele bom inverno. Mas para os flagelados de Mossoró, a situação era a mesma. Muitos continuaram residindo sob a copa verde dos juazeiros e quixabeiras. A chuva trouxe enxurradas, que encheram os barreiros, criando focos de endemias. A febre veio dizimando criaturas indefesas, que sem comida nem agasalho tentavam sobreviver.
               O padre Manoel de Almeida Barreto, na época Diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia e pároco, registrou um encontro que teve com uma flagelada na periferia da cidade. Assim registrou o padre:
               “Uma mulher caminhava a passos perdidos, soluçando aos ventos a elegia dos infinitamente tristes.
               - Que há, minha velha? Disse-lhe.
               -Sei dizer que ali, debaixo daquela quixabeira, perdi marido, filhos, todos, somente eu fiquei para sofrer...
               - E para onde vai?
               - Sozinha sigo para minha terra Pau dos Ferros. Choveu lá. Perdi tudo, porém lá tenho parentes e está chovido, é o que basta. Chuva em minha terra, nada falta. Mas ali, debaixo daquela quixabeira de meus pecados, perdi e deixo a minha alma!... Sinto febre, estou a morte, não sei se alcançarei Pau dos Ferros.
                Estou por tudo, pois a vida que tenho está ali enterrada, perto, disse, daquela quixabeira. Algumas palavras de conforto e alguns tostões caíram naquela alma que saiu em pranto, cambaleando, ao farfalhar da brisa nordestina, sem esperança de chegar a terra, donde emigrou forçada”.
               Naquela época, a administração municipal estava a cargo do comerciante Francisco Vicente Cunha da Mota. Apesar das dificuldades que teve de vencer, ocasionadas pela seca, a sua administração ficou assinalada por uma série de acontecimentos e realizações notáveis, todas de incentivo ao desenvolvimento de Mossoró e região.
               O historiador Câmara Cascudo registra: “Há uma sociedade, em 1916, construindo rodovias para auto-caminhões, ligando Mossoró a Limoeiro, no Ceará. A Intendência auxilia com cinco contos. Cuida-se de urbanismo. O engenheiro Henrique de Navaes mandara uma planta da cidade com projeção de bairros novos e sistematização dos existentes.”
               É nesse ano que Mossoró ilumina-se de luz elétrica. A Intendência contratara o serviço com a Empresa Força, Luz e Melhoramentos de Mossoró. A iluminação começaria com 120 lâmpadas de 32 velas.
               Foi também nesse ano, a 15 de outubro de 1916, que circulou o primeiro número do jornal “O Nordeste”, sendo proprietário José Martins de Vasconcelos. O referido jornal circulou até 1934. José Vasconcelos era jornalista, poeta, músico, político, historiador, autodidata, animador de quaisquer entidades culturais, sendo um espírito sem desânimo e uma figura de alta simpatia humana, segundo as palavras de Cascudo.
               Como curiosidade podemos registrar que foi nesse mesmo ano que Manoel Reginaldo da Rocha, conhecido por “Nezinho Doze Anos”, construiu uma série de vinte casinhas, dando nome ao bairro “Doze Anos”. O apelido devia-se ao fato do mesmo ser pequenino e fraco, parecendo ter apenas aquela idade. Ficara assim chamada a “Família Doze Anos”.
               Foi assim o ano de 1916 em Mossoró.
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A SECA DE 1877

               
O ano de 1877 foi terrível para o sertão nordestino. É nesse ano que começa a calamidade da mais terrível das secas que flagelaram as províncias do nordeste no final do século XIX. No Rio Grande do Norte, quase todas as cidades do interior foram atingidas pela intempérie. As populações abandonaram os sítios a procura das cidades. E Mossoró, no Oeste potiguar, se viu, de repente, invadida por milhares de retirantes que aqui chegavam em busca da salvação, vestidos de trapos sujos, algumas crianças nuas, barrigudas e magras. 

\"A população sertaneja, apavorada, empolgada por um terror coletivo, deslocou-se em massa para o litoral seduzida pela miragem fatal dos Socorros mandados distribuir pelo Governo Monárquico\", como nos conta o historiador Oswaldo Lamartine. Muitos não resistiram a viagem e morreram no meio do caminho; outros, os que ainda tinham força para trabalhar, prestaram serviços ao município em troca de alimentação. Foi uma fase negra na história de Mossoró. 
                
               Naquele período, Mossoró vivia a fase áurea do seu desenvolvimento. A exemplo da maioria das cidades do interior nordestino, começou a formar a sua economia a partir das atividades agropastoris. Mas por estar situada em uma área privilegiada, entre duas capitais e sendo o ponto de transição entre o sertão e o litoral torna-se, já em 1857, uma espécie de empório comercial. 

Apesar de não situar-se no litoral, contava com um porto, o porto de Mossoró ou porto de Areia Branca, município esse que pertenceu a Mossoró até 1892, quando foi desmembrado. Com a chegada dos navios da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira ao porto de Mossoró em 1857, através de uma subvenção concedida pelo governo provincial, o município se torna o centro de comercialização de uma área que atinge, além dos municípios vizinhos, uma parte do Ceará e também da Paraíba. Esse fato é, na visão dos historiadores mossoroenses, o primeiro marco na ascensão de Mossoró a empório comercial. 

A chegada dos navios fez com que comerciantes de outras praças, principalmente de Aracati/CE, viessem a se estabelecer aqui atraídos pelas oportunidades comerciais que a cidade passou a oferecer. E é esse atrativo que faz com que em 16 de novembro de 1868, o industrial suíço Johan Ulrich Graff se estabeleça em Mossoró com a famosa \"Casa Graff\", alavancando o seu desenvolvimento econômico com ideias mercantilistas, associadas ao capital aqui investido. 
                
               Mas se por um lado o crescimento do comércio atraía grandes comerciantes, por outro lado atraía também os famintos retirantes que buscavam aqui meios de sobrevivência. Em determinado período, chegou-se a registrar nada menos que 70.000 flagelados, segundo nos informa o historiador Câmara Cascudo, vindos de toda zona oeste e de estados vizinhos, na busca de meios de sobrevivência. \"Era a fase cruel da seca dos dois sete, prolongando-se até 1879 e mesmo 1880 que ainda reunia grupos famintos pelas ruas da cidade\", nas palavras de Cascudo. 
                
               Nesse período, Mossoró era governada pelo caraubense Francisco Gurgel de Oliveira, o Cel. Gurgel. Apesar das dificuldades que teve de enfrentar para socorrer as vítimas da seca, graças aos auxílios conseguidos do governo provincial e até mesmo de particulares distantes, através da Comissão de Socorros Públicos, que era presidida pelo Dr. Manoel Hemetério, conseguiu, o Coronel Gurgel executar vários serviços nas ruas, no rio e por toda parte. 
               A 4 de março de 1878 a Câmara Municipal oficia ao Presidente da Província: \"A maior parte dessa gente não encontrando um teto que lhe sirva de abrigo passa os dias e as noites exposta às intempéries do tempo, ao sol e ao relento, donde resulta principalmente a espantosa mortalidade que atinge a 40 pessoas por dia\".

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