sábado, 24 de novembro de 2012

Nordeste avança e RN fica para trás

Sara Vasconcelos - Repórter - Tribuna do Norte
A falta de políticas de desenvolvimento regional e de investimentos em infraestrutura tem levado o Rio Grande do Norte a perder competitividade frente aos vizinhos e rendeu à economia do estado o menor crescimento da região, entre os anos 2002 e 2010. A tese, defendida há anos por especialistas, foi reforçada ontem pelo estudo Contas Regionais do Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 



Os  dados mostram a quantas caminhou o Produto Interno Bruto (PIB) dos estados num período de oito anos. No caso do RN, o indicador, que é o principal termômetro do desempenho da economia, cresceu nesse período, mas o ritmo - mostram os números - foi de marcha lenta.



De acordo com o estudo, o PIB potiguar chegou a R$ 32,33 bilhões em 2010, com  crescimento real de 5,1%. A taxa foi menor que a do Brasil (7,5%) e a do Nordeste, de 7,2%. 



Entre os anos de 2002-2010, o RN avançou 30,9%. Para efeito de comparação, estados como Ceará e Pernambuco alcançaram um ritmo superior a 40%. O crescimento potiguar é o mais baixo entre os estados do Nordeste e o quarto menor do Brasil nesse período. Em oito anos, o país cresceu 37,1%.



Para o economista e chefe do IBGE no Rio Grande do Norte,  Aldemir Freire, os anos 2011 e 2012 devem revelar desempenhos ainda piores para o estado.



Em meio à previsão de crescimento da economia nacional inferior a 2% este ano, a tendência é que o RN continue desacelerando, diz Freire. "Sem políticas de desenvolvimento regional e investimentos maciços em infraestrutura, dificilmente o Rio Grande do Norte conseguirá o desempenho de 2010, de 5,1%, o que nesta conjuntura, seria muito bom", afirma Freire. O ano de 2010, lembra ele, foi considerado bom para economia, quando o país atingiu uma taxa de 7,5%, mas não para o estado. "O Rio Grande do Norte, vem ao longo da última década perdendo competitividade, se isolando", acrescenta. 



Para ter ideia, nesse mesmo período o Maranhão consolidou-se na agropecuária como grande produtor de soja. No Ceará, o setor de serviços se destacou, principalmente o comércio, que avançou 0,2 pontos percentuais de participação na série 2002-2010.  O estado de Pernambuco atingiu em 2010 a maior participação do PIB (2,5%) na série. Nos anos de 2009 e 2010, a região Nordeste atingiu o maior patamar de participação no bolo nacional, chegando a 13,5% da série 2002-2010.



Enquanto outros estados receberam investimentos em ferrovias, infraestrutura portuária ou mesmo na área de produção, o RN registrou queda na produção/volume de petróleo e gás natural, bem como, nos dois últimos anos, a variação no preço do barril no mercado internacional prejudicou o valor da produção. 



Somado a isso, ressalta o analista do IBGE, Ivanilton de Oliveira Passos,  o Rio Grande do  Norte tem como principal base da economia a administração pública. O setor responde por 28,35% do valor adicionado estadual. "As políticas de austeridade adotadas ao longo desses oito anos, nas três esferas de governo, como os longos intervalos sem aumento para o funcionalismo, acabam refletindo no poder de compra", afirma. "Não temos indústrias de peso, há uma excessiva carga tributária, a produção agrícola é frágil, com exceção da fruticultura irrigada", acrescenta Passos. 



Comércio cresce, mas não consegue levantar o Estado



Os setores de agropecuária e indústria foram os principais responsáveis, em 2010, pelo baixo crescimento econômico no RN. O segmento de Comércio e Serviços, ao contrário, foi o que mais cresceu na geração de riquezas, cerca de 75%, de acordo com estudo Contas Regionais do Brasil, do IBGE, que mede o crescimento econômico no país.



Embora a taxa de crescimento da economia no Estado tenha se mostrado tímida, 30,9%, entre 2002 e 2010, o levantamento aponta um crescimento de quase seis pontos percentuais, no mesmo período, quando o segmento subiu de 68,2% em 2002 para 74,3% em 2010. Ou seja, para cada R$ 4 cerca de R$ 3 compõem o PIB potiguar estão no setor de Comércio e Serviços, com faturamento superior a R$ 24 bilhões.  O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Norte em 2010 alcançou R$ 32,3 bilhões.



"O comércio vivenciou em 2010, a recuperação da economia, após a crise financeira internacional", observa o analista do IBGE Ivanilton Passos.



Para o presidente da federação do Comércio do Rio Grande do Norte (Fecomércio/RN), Marcelo Queiroz, os dados do IBGE ratificam a importância do segmento para geração de emprego e renda. "Cerca de metade dos empregos formais do estado são gerados pelo nosso segmento", afirma o presidente . Em termos de crescimento por setor, o Comércio foi o que mais elevou sua participação no conjunto do PIB estadual. Em 2002, o comércio respondia por 9,7% do PIB do RN. Em 2010, esta participação atingiu 16,1%, segundo dados do IBGE.



Entre 2002 e 2010, a abertura de  novos equipamentos, como os  shoppings Midway Mall e o Mossoró West Shopping, e as  políticas de isenção fiscal, adotadas pelo governo federal impactaram as vendas. "O ano de 2010, em particular, foi de grandes recordes de crescimento de vendas", afirma Marcelo Queiroz. Para 2012, a previsão é de acomodação com  um crescimento razoável de vendas. 



Indústria tem peso menor no RN



O setor da indústria apresentou um crescimento de 9,4% do PIB do Rio Grande do Norte, em 2010 em comparação ao ano anterior, graças a recuperação da Economia, explica o analista do IBGE, Ivanilton Passos. Apesar da elevação, a participação no PIB estadual ainda é considerada pequena. 



A indústria de transformação responde por 6,98%, a Indústria de extrativismo por 6,04% e a Construção Civil por 7,09% do valor adicionado bruto do estado, de R$ 28,543 bilhões. "A construção civil e o comércio tiveram bons desempenhos, contudo, estes setores perderam a capacidade de sozinhos puxar a economia do Estado", analisa o superintende do IBGE Aldemir Freire.



A indústria têxtil começou a  sentir os efeitos da crise, que culminou com a demissão de milhares de trabalhadores. A Coteminas, uma das principais empresas do setor, também reduziu as atividades, para investir em um projeto imobiliário.



O segmento de petróleo e gás sofreu uma redução tanto em produção, quanto em reserva. E a inserção da indústria eólica a partir de 2010 no Estado não refletiu no ritmo de crescimento e nem deverá, segundo Freire, repercutir no desempenho de 2011 e 2012. Isto porque somente as torres são construídas no Estado. "As pás e aerogeradores, a industria pesada que poderia gerar riqueza, não está aqui, os equipamentos vem de fora", afirma. O estado tem apenas uma fábrica de torres operando, em Parazinho.



A falta de uma política de desenvolvimento regional e de investimentos em infraestrutura portuária, aeroportuária e em rodovias é apontada pelos presidentes da Federação das Indústrias do RN, Amaro Sales, e da Federação da Agricultura e Pecuária, José Vieira, como  motivadores da perda da capacidade competitiva e de atração de novos investimentos para o Estado, ao longo do tempo.



"É preciso que o Estado acorde e busque novos investimentos, como fez o Ceará, Pernambuco e Bahia, invista em logística e infraestrura e crie uma política direcionada para a indústria, trace metas, do contrário vamos continuar perdendo espaço", disse Amaro Sales.



Para 2013, com as obras para a Copa, do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante e a retomada da mineração, o presidente da Fiern acredita que seja possível uma retomada da taxa de crescimento da economia.



No caso do setor agropecuária, com participação de 4,2% no PIB de 2010 e queda de -4% em comparação ao ano anterior, a previsão é fechar o ano de 2012, com perda total. Todas as áreas, fruticultura, produção canavieira, o plantio de grãos com 90% de perdas, deve puxar ainda mais essa queda no setor", disse José Vieira.



EMPREGO



O desempenho da economia entre os anos 2002 e 2010 não foi a única notícia negativa revelada ontem sobre o Rio Grande do Norte. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostraram que o estado registrou em outubro de 2012 o menor saldo de empregos com carteira assinada, no mês, desde o ano 2003. De acordo com o levantamento, 185 trabalhadores perderam o emprego em outubro deste ano. Tal resultado - que considera todos os setores da economia - decorreu principalmente do desempenho negativo nos setores de Serviços (-480 postos de trabalho) e da Construção Civil (-334 postos), cujas quedas no emprego superaram as contratações. A geração de novos empregos em outubro vem declinando desde 2010, mas nunca havia atingido um patamar tão baixo. Para se ter ideia, o saldo, que mostra quantos empregos foram de fato gerados, já descontadas as demissões, alcançou 2.577 em 2009. Em 2010, caiu para 2.365 e recuou ainda mais nos anos seguintes: em outubro de 2011 chegou a 1.941 e neste ano ficou negativo em -185. Nacionalmente o cenário também é ruim. O saldo líquido de empregos  em outubro no país foi de 66.988, uma queda de 58,2% (com ajuste) em relação ao mesmo mês de 2011, segundo o Caged. É o pior resultado para um mês de outubro desde 2008. A expectativa do MTE era de geração de 140 mil vagas no período.


*COLABOROU RENATA MOURA


[O  crescimento do PIB do RN foi menor do que o nordestino e o do país para o período 2002-2010. Sem investigar as causas de tal circunstância apresento a seguir algumas especulações sobre a temática. O PIB brasileiro e o nordestino, em particular, tem sido cada vez mais dependente do componente consumo, o RN também tem essa dependência. A economia potiguar é cada vez mais dependente do setor público e parece consenso que chegamos ao limite de expansão dos gastos com pessoal. Pode-se especular que o crescimento, embora mais modesto, que o RN conseguiu no período 2002-2010 foi resultado da ampliação da participação da administração pública da economia (é claro que não foi o único) e é perfeitamente plausível considerar que a insustentabilidade desse 'modelo' fica mais visível num cenário de maior dificuldade econômica (os gastos aumentaram e não tem como continuar aumentando numa conjuntura econômica de desaceleração e maior restrição na captação de recursos, via tributos). Outra perspectiva sugere que as lideranças políticas do estado não lograram o mesmo êxito de estados como Bahia, Pernambuco e Ceará, na atração de investimentos significativos em infraestrutura. O discurso de que recebemos uma atenção especial na realização de investimentos estratégicos (portos, aeroportos, ferrovias, energia, etc.) foi a lona com os números divulgados pelo IBGE. A maior parte de nossa população é pobre, o mercado é exíguo (e diminuindo), a logística e a infraestrutura continua sofrível, nossos políticos continuam os mesmos, então, qual a surpresa?][Creio que não perdemos competitividade. Não se perde o que não se tem e não existem elementos que permitam vislumbrar tal circunstância, mas é inegável que estados como Bahia, Pernambuco e Ceará avançaram mais que os outros estados da região, principalmente, pela capacidade de materialização de significativos investimentos em infraestrutura e que devem permitir, ao longo dos próximos anos, diferenciais positivos no crescimento econômico.]

Mais: Aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário